terça-feira, 12 de janeiro de 2016

#210 o que não disse de David Bowie



Recebi a notícia com uma lágrima, mas com um ainda maior sorriso. David Bowie partia e deixava um álbum novo, onde até um tema, teledisco e a própria letra há: sobre a sua morte. Fabuloso! Desfolhei a imprensa e descobre-se que Bowie estava doente há muito tempo. Não se sabia, tal como dos avc's que tinha dito. 

Brilhante Bowie! Brilhante! Tudo preparado ao detalhe.

Um ser andrógino. Com tendência para o excesso. Excêntrico. Criativo. Visionário. Mal compreendido muitas das vezes. 

Naturalmente que assim, era difícil não gostar eu de David Bowie.

Mais por vezes do que da própria música, confesso, a minha ligação estava naturalmente criada ao personagem. Mas também ao David Bowie ortónimo, se me é permitida esta analogia com a escrita, escritor que também ele era, É e será. 

Fosse "esse" qual fosse, camaleão que era, o "re-inventor".

Simpatizo com Bowie, como com Pessoa. 

O segundo leio-o, o primeiro ouço-o. A ambos degusto a linguagem, o arrojo, a coragem. Ambos representam a heterogeneidade do ser humano. A sua pluridimensionalidade, em épocas diferentes, visitando artes diferentes.

Desnudaram algumas das camadas que todos temos, exibamo-las ou não. Os nossos lados mais secretos. Os nossos alter-egos, os múltiplos papéis que representamos. 

Assumir a diferença é difícil. Bem o sei, excêntrico que sou considerado em tanta coisa e escondido que permaneço, em tantas outras.

É que ter uma visão diferente da maioria, isolada por vezes até, dificulta a convivência neste mundo habituado a fabricar cópias, qual máquina reprodutora de medíocres, castradora da genialidade que reside em todos e em cada um.

De facto por vezes, é mais fácil estar calado. Sorrir apenas e acenar com a cabeça.

Ficamos todos mais "felizes" e saio com maior facilidade da eventual cena série B, no ambiente nocivo em que me vejo, nessas alturas.

É difícil fugir à contaminação. É difícil manter a coragem de sabermos quem somos, mesmo quando necessariamente nos transvestimos de nós mesmos.

Mas o espelho da alma não mente. Olho, observo-me com calma e reconheço-me.  

Enquanto assim for: há esperança.


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